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10/02/2025 08:35

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Floresta amazônica

Floresta amazônica


A pesquisa de ponta em fármacos no Brasil está se expandindo a partir da biodiversidade amazônica, unindo esforços entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).

O projeto consiste na análise de microrganismos do solo amazônico com potencial para o desenvolvimento de antibióticos e compostos antitumorais. Os primeiros resultados foram publicados recentemente em uma revista científica internacional.

Do solo Amazônico ao maior acelerador da América do Sul

A coleta das amostras foi realizada no Parque Estadual do Utinga, uma reserva de conservação criada em 1993, onde foram isoladas três espécies bacterianas das classes Actinomycetes e Bacilli, pertencentes aos gêneros Streptomyces, Rhodococcus e Brevibacillus.

Essas amostras foram então levadas para análise detalhada no Sirius, o maior acelerador de partículas da América do Sul, localizado no CNPEM, em Campinas.

O sequenciamento genético dessas bactérias foi feito no laboratório EngBio-UFPA, sob a coordenação de Diego Assis das Graças, utilizando a tecnologia PromethION, da Oxford Nanopore.

Esse sistema permite uma leitura precisa e em tempo real do DNA, reduzindo custos e aumentando a eficiência da pesquisa.

Segundo Daniela Trivella, coordenadora de Descoberta de Fármacos do LNBio (Laboratório Nacional de Biociências), metade das moléculas analisadas eram desconhecidas, reforçando o potencial biotecnológico da Amazônia.

Amazônia: Um ecossistema para novos medicamentos

O estudo revelou que os genes biossintéticos encontrados nesses microrganismos são responsáveis pela produção de substâncias com potencial biológico, fundamentais para a descoberta de novos medicamentos.

Mais de dois terços dos fármacos desenvolvidos mundialmente têm origem em moléculas naturais, chamadas metabólitos secundários.

“O ecossistema amazônico continua sendo uma das principais fontes de biodiversidade ainda pouco exploradas, com enorme potencial para a criação de novos produtos”, destacou Rafael Baraúna, pesquisador da UFPA.

Atualmente, menos de 10% das bactérias selvagens podem ser cultivadas em laboratório, e apenas 10% dos genes desses organismos são expressos no ambiente laboratorial. Isso significa que muitas substâncias com potencial terapêutico permanecem desconhecidas sem métodos avançados de análise, como os utilizados no Sirius.

Produção em laboratório e novas aplicações

Para ampliar a produção das substâncias identificadas, os cientistas utilizaram uma técnica inovadora chamada metabologenômica, na qual genes específicos das bactérias amazônicas foram transferidos para espécies comuns de laboratório, permitindo que elas sintetizassem os compostos de interesse em larga escala.

"Com esse método, conseguimos ‘convencer’ bactérias domesticadas a produzir moléculas de alto valor terapêutico, que antes só eram encontradas na floresta", explicou Daniela Trivella.

O processo permite testar até 10 mil moléculas por dia, acelerando a pesquisa e viabilizando o desenvolvimento de novos medicamentos.

Ciência contra o Tempo

Apesar do avanço tecnológico, o tempo para a descoberta dessas moléculas é um desafio, pois o bioma amazônico sofre uma degradação crescente. 2024 registrou o maior número de queimadas e incêndios na Amazônia nos últimos 17 anos.

Para fortalecer as pesquisas no bioma, foram destinados R$ 500 milhões para investimentos na próxima década, conforme anunciado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O objetivo é valorizar economicamente a floresta, incentivando sua conservação.

Próximos passos da pesquisa

A iniciativa faz parte da Plataforma de Descoberta de Fármacos LNBio-CNPEM, que abrange todas as etapas da pesquisa, desde a identificação de moléculas promissoras até a obtenção de um protótipo de fármaco.

As próximas fases do projeto levarão as equipes de campo a áreas mais remotas da Amazônia Oriental, onde se espera descobrir ainda mais compostos inovadores e aprofundar o conhecimento sobre a biodiversidade da região.

 

Com informações da Agência Brasil

Da redação

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