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20/05/2025 10:24

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Dinheiro e calculadora na mesa

Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil


O comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas voltou a subir e já atinge 27,2%, nível semelhante ao registrado em julho de 2023, quando o governo federal lançou o programa Desenrola Brasil para combater o alto endividamento. Os dados mais recentes, referentes a fevereiro deste ano, foram divulgados pelo Banco Central (BC).

Segundo especialistas, o aumento está relacionado a uma maior concessão de crédito no final de 2024, combinada à elevação da taxa básica de juros (Selic), que passou de 10,5% para 14,75% ao ano — o maior patamar em quase 20 anos.

📉 Principais fatores para o aumento do endividamento

  • Alta da Selic: pressiona as famílias e encarece o crédito.
  • Inflação: IPCA acumulado em 12 meses ficou em 5,53%, acima da meta.
  • Crédito caro: com a renda comprometida, muitas famílias recorrem a modalidades como cheque especial, rotativo do cartão e crédito pessoal, com juros elevados.
  • Crescimento da inadimplência: motivado por dívidas antigas e dificuldade de acesso a crédito barato.

💸 Exemplos da realidade das famílias

Maria Regina Cordeiro, 72 anos, aposentada, compromete quase toda sua renda de R$ 3 mil com dívidas e contas fixas:

“Tenho de bancar tudo sozinha. Meus dois salários mínimos vão praticamente todos para pagar dívida”.

Alexandra Gonçalves, 49 anos, copeira hospitalar, afirma que R$ 3 mil dos R$ 5.700 da renda familiar mensal vão para compromissos como aluguel, cartão de crédito e cuidados com a neta:

“Tem mês que a gente aperta daqui para cobrir dali”.

📊 Impacto do programa Desenrola

O programa Desenrola Brasil, lançado em 2023, conseguiu reduzir o comprometimento de renda até maio de 2024, quando atingiu 25,8%. No entanto, o alívio durou pouco. Economistas explicam que:

  • 70% do novo aumento se deve à amortização do principal das dívidas, puxada por crédito pessoal e cartões;
  • 30% se referem aos juros, reflexo direto da alta da Selic;
  • A renda cresceu 9,5%, mas não compensou o ritmo da tomada de crédito.

💼 Crédito do Trabalhador

O Crédito do Trabalhador, lançado recentemente, pretende reduzir o custo do endividamento, ao ampliar o acesso ao crédito consignado para todos os trabalhadores com carteira assinada.

  • R$ 10,1 bilhões já foram concedidos em pouco mais de um mês;
  • R$ 2 bilhões foram utilizados para migrar dívidas caras;
  • O novo modelo permite descontos em folha e oferece juros mais baixos e prazos maiores.

🛡️ Ações para proteção do consumidor

O Ministério da Fazenda e o Banco Central trabalham para fortalecer a cidadania financeira com ações como:

  • Educação financeira e maior proteção ao consumidor;
  • Nova regulação para diferenciar conduta e prudência no setor financeiro;
  • Regras que limitam os juros do rotativo e do cheque especial.

🧭 Perspectivas

Especialistas apontam que, apesar do crescimento da renda e das novas linhas de crédito, a estrutura de crédito no Brasil ainda é frágil para famílias vulneráveis, o que exige ações estruturantes.

“Precisamos de um trabalho de educação e proteção. Os países desenvolvidos fazem isso”, afirmou Marcos Pinto, secretário de Reformas Econômicas da Fazenda.

A expectativa é de que, no segundo semestre, o endividamento caia, caso o Crédito do Trabalhador seja usado, de fato, para renegociar dívidas mais caras e não para assumir novos compromissos de forma desordenada.

Da redação

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